sábado, 28 de fevereiro de 2009

Interlúdio: Between Despair and Friendship

Já corria há 2 dias. Os primeiros raios de sol rasgavam o céu escuro de Deheon. As lágrimas já haviam secado a muito, apenas uma sobrevivia ainda agarrada ao canto do olho esquerdo do garoto. Mas não duraria muito, a gravidade era mais forte e então ela se desprendeu, e caiu em direção ao chão. E instantes após a lágrima explodir no chão o corpo do jovem também despencou forte, exausto e sujo, cedeu a fraqueza da falta de sono e comida. A consciência esvaiu-se aos poucos. Tontura. Vista Turva. Escuridão.

O jovem acordou avistando um teto. Estava limpo, com roupas novas e numa cama de palha, confortável, quem diria. Assim que levantou, foi recebido por um sorriso. Uma jovem de louros cabelos cacheados, vestida de verde e dourado, segurando um bebê empacotado em mantos da mesma cor. Ela explicou que ele estava em um templo de Lena, que havia sido achado por um mercador de passagem e trazido para que fosse tratado. Enquanto falava, ela empurrou uma bandeija com pão, queijo, carne e um copo de suco para que o garoto comesse. Estavam em Selentine e a bebezinha se chamava Myssa, não tinha mais de 3 semanas de vida, e sua mãe, Melissa, que não havia chegado ao mundo mais que cinco ou seis anos antes do garoto, era recém iniciada ao clericato da Deusa da Vida. E apenas depois de muito insistir conseguiu que Koji lhe dissesse seu nome.

- Então, querido, o que te fez desejar chegar tão rápido em Selentine? Perguntou Melissa.
- Eu não pretendia chegar aqui... Murmurou Koji.
- Entendo, então do que fugias?
- De tudo. Todos se foram e não sobrou nada. Nem a esperança de estarem um lugar melhor.
- Como assim? Tenho certeza que Lena está cuida... A sacerdotiza foi interrompida.
- Estão todos MORTOS! Você não entende, a Tormenta. MORTOS. Eles estão...

O susto de ouvir palavras de morte de um garoto de 10 anos a deixou boquiaberta. E a tristeza alcançou seu coração quando a Tormenta foi mencionada. Ficou sem reação por alguns segundos, ouviu o garoto balbuciar um agradecimento pelos cuidados e gaguejar umas desculpas. Não pôde evitar que garoto se levantasse e beijasse sua fronte e repentinamente, ainda fraco e desnutrido, pulasse pela janela e corresse pra longe. Só pode ir até a janela e gritar. "Me procure quando voltar, estarei esperando com um sorriso!"

O garoto só parou quando chegou as montanhas. Achou uma pequena caverna, expulsou uns poucos morcegos que pendiam no teto e se pôs no chão. Sentado e abraçando os joelhos, tentou chorar mas não haviam lágrimas. Logo adormeceu.
No dia seguinte, o garoto tentou subir ainda mais as montanhas. Apoiou os pés, pôs as mãos no paredão e assim que tentou subir sua mão desprendeu uma pedra que caiu em seu pé. Todo o rancor e raiva acumulados estravazaram no chute que o garoto deu no paredão. Então, quando começou a amaldiçoar o mundo pela dor no pé, sentiu o chão tremer. O paredão se movia, o jovem olhou para o céu e seu corpo paralizou.
O paredão não era paredão. Era um gigante, tão grande que seus ombros tocavam as núvens que escondiam seu rosto. Lentamente, a cabeça do gigante foi se aproximando, descendo dos céus ao encontro do garoto, que não ousava se mexer. Parou a dois metros acima do garoto.

Então veio o trovão:
- Essa coceira no meu pé foi você garoto? Apenas a voz do gigante deixou o jovem sentado no chão.
- M-m-me de-d-des-desc-desculpe. Gaguejou enquanto tentava não molhar as calças.
- Ah, não precisa se desculpar pequenino, pelo menos você não tentou colocar um daqueles ganchos de escalada, ah aqueles sim são um problema de tirar! Mas me diga, o que te aborrece? Um simpático sorriso de avô estampava o semblante do titã.
- N-na-nada.
- Meu caro, você não parece saber quem eu sou. Eu sou Teldiskan, Deus do Clima. E como é parte de meu domínio, eu posso ver uma tempestade no seu passado, A PIOR delas. Então mais uma vez, o que te aborrece, pequenino?

Com lágrimas no olhos, a Criança contou ao Deus toda sua tragédia. E o Deus, como pai que deve ser, acolheu a Criança, cuidou de sua saúde e de seu espírito. Não foi um trabalho fácil, mas um Deus tem todo o tempo disponível. Depois de alguns anos de reclusão, histórias e ensinamentos, a Criança virou Jovem, e agradecido, deixou o Deus e partiu em busca do Destino. Voltou a Selentine, encontrou Melissa, deu-lhe um beijo e abraço apertado, almoçaram juntos e então partiu novamente. Sua Família esperava em Valkaria e precisava dele. Mas não encontraria o Destino na cidade, pois ela era como a Deusa, um nômade, sempre entretido numa viagem, numa busca maior. E munido apenas de uma cicatriz na alma e uma vontade no coração, ele partiu em sua busca maior.

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